quinta-feira, 30 de setembro de 2010

22. Missão Cumprida


             Entro no bar do hotel e lá está ela. Glamurosa em seu vestido preto, sentada ao balcão, bebericando seu Dry Martini. A neve cai lá fora no gélido inverno de Paris.
            Paris, je t’aime!
            Ela me olha e vira o rosto com desprezo aparente (ou seria apreensão?). Não há nada que eu possa fazer agora a não ser sentar-me ao piano e tocar Violet Hill do Coldplay. As poucas pessoas presentes aplaudiram educadamente e me levanto. Missão cumprida.
            Vou até o bar e peço uma taça de vinho tinto. Viro-me para ela e digo:
            —Dizem que o vinho é a bebida do homem apaixonado.
            —Dizem que homens apaixonados tendem a ser muito estúpidos. Tem fogo?
            Pego meu Zippo, acendo dois cigarros e dou um para ela.
            —Como me encontrou aqui? — Ela pergunta depois de uma longa primeira tragada no cigarro, como as primeiras tragadas devem ser, e um gole de Martini.
            —Confesso que não foi fácil, você é uma mulher bem esguia. — Dou um gole no meu vinho e ela sorri com a afirmação. — Mas você usou seu cartão de crédito naquela simpática livraria na Champs-Élysées. Você comprou aquela primeira edição francesa d’O Retrato de Dorian Gray e tomou um café. — Ela assente com a cabeça. — Grande erro.
            —Fiquei sem euros. — Ela diz num tom culpado.
            —Eu me referia ao café, é horrível para os padrões parisienses, mas usar o cartão também não foi boa idéia.
            Ela ri. O barman me cutuca e aponta para o piano dizendo “Allez, allez!”. Só não o mando à merda por não saber dizer isso em francês.
            Levanto-me, volto para o piano e toco uma versão em jazz de Breakfast In America do Supertramp e Your Song do Elton John sem tirar os olhos dela. Volto para o balcão e peço uma dose de Jack Daniel’s
            Ela me pega pelo braço e me puxa para o quarto dela, eu fico sem reação.
            —Quero mais uma noite com você.
            Não vejo mal algum nisso.
            Entramos no quarto e vejo o casaco de pele que eu havia lhe dado há alguns anos nessa mesma cidade, nessa mesma época do ano. O Retrato de Dorian Gray descansa no criado-mudo, o marcador de páginas indica que ela já passou da metade do livro.
            Ela me empurra para a cama e desamarra a alça do vestido, deixando-o cair no chão, exibindo suas formas curvilíneas e impressionantemente bem desenhadas.
            —Céus! Você é perfeita! — Eu digo boquiaberto, esquecendo como era antigamente.
            —Não diga isso, mon chere, a verdadeira perfeição morre em pouco tempo.
            Ela cai sobre mim.
            Passam-se as horas. Ela dorme como um anjo deve dormir, linda e profundamente.
            Pego minha Magnum no bolso do paletó, encaixo o silenciador nela, coloco um travesseiro em cima do peito dela e atiro através dele.
            Ela não produz um som, nem um movimento além do reflexo do tiro. Pego meu celular e ligo para o cliente enquanto uma lágrima escorre no meu rosto.
            —Missão cumprida.

Caro Presidente


Caro Presidente Lula,
           
Gostaria de agradecer por todos os estragos que o senhor fez no Brasil. Obrigado por mostrar que qualquer um pode ser eleito, inclusive um metalúrgico semi-analfabeto ou um estilista cleptomaníaco.
Obrigado também por apoiar a candidatura de um pagodeiro que pratica, assumidamente, violência contra a mulher.
Em nome dos políticos, agradeço também por encobrir escândalos de dimensões nacionais como o mensalão (e outros menos lucrativos).
Aprecio sua capacidade de conciliar seu governo com churrascos e viagens. Isso sem contar a sua campanha pró-Dilma ainda em 2009 antes da hora, que lhe rendeu algumas dezenas de multas do Tribunal Superior Eleitoral.
Quero deixar claro que apoio totalmente a sua compra de votos em forma de assistencialismo que é o Bolsa Família.
Sua política externa também meu agradou muito, em especial a sua amizade com ditadores populistas como os irmãos Castro e Hugo Chávez e outros nem tão populistas como o do Irá, de nome impronunciável.
Espero que você tenha sucesso controlando seu fantoche Rousseff e se mantenha no poder por muitos e muitos anos, mantendo seu legado.
Obrigado por dar continuidade ao meu trabalho.
Atenciosamente,
Josef Stalin