Entro no bar do hotel e lá está ela. Glamurosa em seu vestido preto, sentada ao balcão, bebericando seu Dry Martini. A neve cai lá fora no gélido inverno de Paris.
Paris, je t’aime!
Ela me olha e vira o rosto com desprezo aparente (ou seria apreensão?). Não há nada que eu possa fazer agora a não ser sentar-me ao piano e tocar Violet Hill do Coldplay. As poucas pessoas presentes aplaudiram educadamente e me levanto. Missão cumprida.
Vou até o bar e peço uma taça de vinho tinto. Viro-me para ela e digo:
—Dizem que o vinho é a bebida do homem apaixonado.
—Dizem que homens apaixonados tendem a ser muito estúpidos. Tem fogo?
Pego meu Zippo, acendo dois cigarros e dou um para ela.
—Como me encontrou aqui? — Ela pergunta depois de uma longa primeira tragada no cigarro, como as primeiras tragadas devem ser, e um gole de Martini.
—Confesso que não foi fácil, você é uma mulher bem esguia. — Dou um gole no meu vinho e ela sorri com a afirmação. — Mas você usou seu cartão de crédito naquela simpática livraria na Champs-Élysées. Você comprou aquela primeira edição francesa d’O Retrato de Dorian Gray e tomou um café. — Ela assente com a cabeça. — Grande erro.
—Fiquei sem euros. — Ela diz num tom culpado.
—Eu me referia ao café, é horrível para os padrões parisienses, mas usar o cartão também não foi boa idéia.
Ela ri. O barman me cutuca e aponta para o piano dizendo “Allez, allez!”. Só não o mando à merda por não saber dizer isso em francês.
Levanto-me, volto para o piano e toco uma versão em jazz de Breakfast In America do Supertramp e Your Song do Elton John sem tirar os olhos dela. Volto para o balcão e peço uma dose de Jack Daniel’s
Ela me pega pelo braço e me puxa para o quarto dela, eu fico sem reação.
—Quero mais uma noite com você.
Não vejo mal algum nisso.
Entramos no quarto e vejo o casaco de pele que eu havia lhe dado há alguns anos nessa mesma cidade, nessa mesma época do ano. O Retrato de Dorian Gray descansa no criado-mudo, o marcador de páginas indica que ela já passou da metade do livro.
Ela me empurra para a cama e desamarra a alça do vestido, deixando-o cair no chão, exibindo suas formas curvilíneas e impressionantemente bem desenhadas.
—Céus! Você é perfeita! — Eu digo boquiaberto, esquecendo como era antigamente.
—Não diga isso, mon chere, a verdadeira perfeição morre em pouco tempo.
Ela cai sobre mim.
Passam-se as horas. Ela dorme como um anjo deve dormir, linda e profundamente.
Pego minha Magnum no bolso do paletó, encaixo o silenciador nela, coloco um travesseiro em cima do peito dela e atiro através dele.
Ela não produz um som, nem um movimento além do reflexo do tiro. Pego meu celular e ligo para o cliente enquanto uma lágrima escorre no meu rosto.
—Missão cumprida.