segunda-feira, 28 de junho de 2010

Céu-Inferno Com Escala - Parte Final


O mundo voltou a ter cor pra mim, mas eu ainda estava sem a Fernanda e meu coração começou a doer ainda mais quando o Renato me pediu para voltarmos com as aulas. Eu relutei, mas eu gostava do guri, era como meu irmão caçula. Ele me contou que a irmã estava morando com o Carlos lá na casa dela, mas eles nunca passavam o dia lá. As semanas corriam e eu nunca tinha encontrado com a Fê ou com o Carlos lá na casa deles. Até um dia.
            Quando eu cheguei ao casarão, notei que a porta estava aberta e a empregada não estava e entrei. O silêncio fazia o ouvido doer, até que ouvi gritos, era o Renato. Corri até o quarto dele e a cena que vi foi monstruosa. Havia um homem, de uns 30 anos, cabeça raspada olhos castanhos só de cueca tentando arrancar as roupas de Renato.
            — Me solta, Carlos! — gritava a criança
            Os dois pararam e me olharam por um segundo, agora era o pedófilo que estava com medo.
            — Seu filho da puta! — gritei e avancei para perto dele.
            — Não é o que você está pensando. — respondeu o maldito.
            — Ele tem nove anos! — apontei para Renato que estava chorando no canto do quarto.
            Primeiro o escroto rouba a mulher que eu amo, depois eu descubro que ele é um pedófilo e estava atacando o irmão da mulher que eu amo. Não suportei mais e derrubei-o no chão com um soco, subi em cima dele e esmurrei a cara dele. Até que a Fernanda entrou correndo no quarto, ela estava linda, mas com o semblante triste. Era a primeira vez que eu a via em meses.
            Contei o que aconteceu, depois de deixar o escroto desacordado e amarrado, e concordamos em chamar a polícia.
            — Ele sempre me pareceu tão doce com o Renato. — ela me disse ao fechar a porta.
            — É, as aparências enganam. —respondi com certa rispidez, eu tava puto por ter sido trocado por um animal como aquele.
            — Ouvi dizer que você tá limpo. — ela comentou mudando de assunto.
            — To, mas parece que você não. — o braço esquerdo dela estava cheio de furos de agulhas.
            — O Carlos não era uma boa influência.
            Passado um tempo de silêncio constrangedor, ela começou a chorar, fiquei atônito até que ela disse:
            — Dani, eu tenho AIDS!
            Naquele momento eu devo ter feito uma cara de terror, pois ela logo emendou:
            — Mas fica tranqüilo, foi por causa do Carlo, ele me passou pelas seringas.
            — Ficar tranqüilo? — explodi — Como posso ficar tranqüilo sabendo que aquele filho da puta passou AIDS pra mulher que eu amo?
            — Você ainda me ama?
            — Nunca deixei de te amar.
            Foi foda, a única coisa pior que sofrer é ver quem você ama sofrendo, nossas vidas nunca mais foram as mesmas, ela tinha um coquetel pra tomar e tudo ficou deprimente, não sabíamos quanto tempo ela ainda tinha, passamos dois anos nesse sofrimento, mas eu nunca saí do lado dela. Um dia ela dormiu, já estava no hospital, dormiu e não acordou nunca mais, foi o dia mais difícil da minha vida.
            Mas eu nunca me dediquei tanto a alguém como fiz com ela, até seu último suspiro. Seus longos cabelos loiros e seus reluzentes olhos azuis me encantaram desde o primeiro instante.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Céu-Inferno Com Escala - Parte 2


Esse mundo de fama e influência vem recheado de sexo e drogas e foi nesse universo que conheci o Joca, um fornecedor de material ilícito. Mas ele não era um traficantezinho de morro, a sede dele era numa cobertura no Morumbi, ele era rico, rico pra caralho. E eu virei um dos maiores compradores dele.
            — Grande Dani! — ele me saudou.
            — Fala, bicho! O que tu tem de novo? — perguntei.
            — Um pouco de talco, puríssimo, e algumas vacinas.
            — Ta esperando o que pra empacotar? — eu disse tirando dinheiro vivo do bolso.
            — Ta na mão. E como vai a patroa? Faz tempo que ela não cola por aqui.
            — Ta lá em casa esperando a mercadoria.
            A Fernanda entrou nesse mundo comigo, não lembro como ela começou, só lembro que foi por vontade própria, mas eu menti quando eu disse que ela tava esperando as drogas, na verdade ela esperava um bebê, nosso filho, e já estava no sexto mês. Ela se comportou direitinho, não fumou, não cheirou, não se picou, uma mãe exemplar. Eu, por outro lado, estava me fodendo cada vez mais, me sentia um Pete Doherty, mas o público gostava desse estilo “roqueiro drogado”. Enquanto eu me afundava na lama a minha carreira deslanchava, eu já era uma das figuras mais famosas do país. É como diz o ditado, dinheiro não trás felicidade, mas corta o caminho.
            Eu tava nervoso com a expectativa da paternidade, mas feliz, mesmo me matando aos poucos. Os viciados nunca sabem o que fazem e comigo não foi diferente, eu não percebi o meu declínio, não percebi que o que antes era o Paraíso começou a virar o Purgatório.
            O telefone tocou:
            — Dani, a bolsa estourou! — era Fernanda, ela estava aos prantos.
            — Caralho! Ainda falta um mês! Relaxa, pega um táxi que eu te encontro no hospital. — Eu estava tremendo, cheirei uma carreira de fui. Esperei umas duas horas até o médico vir me falar o que aconteceu.
            — Fizemos tudo que pudemos, mas não conseguimos salvar o bebê. — Ele disse. Soquei a cara dele e fui correndo até o quarto, deixando o médico caído no chão.
            Fernanda estava dormindo com o rosto cheio de lágrimas e os olhos vermelhos, eu chorava também. A morte do meu filho marcou a minha passagem do Purgatório pro Inferno, eu estava começando a me livrar do vício, mas acabei voltando, e voltei com tudo. Pra piorar tudo a Fernanda me largou, na verdade ela tinha me pedido um tempo, mas qual é a diferença?
            Eu dividia meu tempo livre compondo, me drogando e bebendo, invariavelmente jogado num canto qualquer em casa iluminado pela lua. Não era a atividade mais divertida, mas quebrava um galho pra afogar as mágoas.
Descobri um tempo depois, através do Joca, que a Fê estava com outro, um cliente dele chamado Carlos. Só Deus sabe o quão puto eu fiquei, quando eu achei que já tinha chegado ao fundo do abismo vi que dava pra eu me sujar mais, pelo menos até ter uma overdose. Poucas pessoas conseguem sair vivas de uma overdose de heroína, eu fui uma delas.
Eu estava com o Pedro, o único amigo de verdade que me restou durante o meu declínio. Ele era tão doidão quanto eu, mas me acompanhou do Paraíso até o Inferno, ele era o baterista da minha banda, foi o Pedro que me levou pro hospital.
            — Não vou te passar sermão, Daniel — Me disse o médico quando eu acordei. — Só vou pedir pra você parar por aqui antes que não haja mais salvação. Você ainda tem esperança.
            Eu não prestei atenção em nada do que ele falou até a palavra “parar”, eu só conseguia pensar na Fernanda, mas pensei no meu risco de vida.
            — Falar é fácil. — Respondi depois de alguns segundos.
            — Você está certo, é difícil largar as drogas, por isso eu vou te recomendar uma clínica. Já passei o endereço para seu amigo.
            — Reabilitação? Nem fodendo! — Eu não estava com o menor saco de encarar uma reabilitação.
            — Vamos, Dani, pense bem, pode ser nossa luz. Eu vou com você. — Disse o Pedro.
            Aceitei o desafio, foram os três meses mais barra pesada pelos quais eu já passei. Comendo uma comida escrota com enfermeiros me rodeando 24 horas por dia com remédios e missas duas vezes por semana, alguns saem de lá evangélicos. Mas melhor do que eu esperava, a cada semana que passava o poço parecia mais raso e mais fácil de escalar.

domingo, 13 de junho de 2010

Céu-Inferno Com Escala - Parte 1

Nunca me dediquei tanto a alguém como fiz com ela, até seu último suspiro. Seus longos cabelos loiros e seus reluzentes olhos azuis me encantaram desde o primeiro instante.
            Já faz sete anos que saí de Porto Alegre para seguir minha carreira de músico em São Paulo. Deixei minha vida pra trás e comecei tudo de novo, minha família ficou puta na época, mas era eu ou eles. Tive que me foder muito aqui para começar a me dar bem, são várias histórias que não valem a pena serem contadas agora.
            O importante é que depois de seis meses comendo merda eu consegui um emprego de professor e uma banda, foi aí que as coisas começaram a ficar interessantes. Consegui comprar um apê decente e tinha cada vez mais alunos pagando minhas contas, eu vivia com relativo conforto. Foi nessa época de vacas gordas que meu celular tocou foi o começo do fim. Ou o fim do começo, tanto faz.
            — Daniel Chaplin falando. — Atendi.
            — O professor de guitarra? — Ela perguntou, sua voz era suave como um coral de anjos. — Meu nome é Fernanda e eu tenho um irmãozinho que quer aprender a tocar. Ouvi dizer que você é o melhor. — Senti um arrepio.
            — Ouviu, é? Bom, podemos começar no próximo sábado, está bom pra vocês?
            — Sábado está ótimo!
            Nesse momento, meu coração já estava a mil com a expectativa de encontrar a Fernanda, ver como ela era. Passei as duas noites seguidas em claro imaginando o rosto e o corpo da Fernanda.
            Sábado finalmente chegou e eu fui até a casa do garoto com um puta nervosismo. Eles moravam numa casa gigante na zona oeste da cidade.
            Quem me atendeu foi a empregada, ela me conduziu até uma sala de visita do tamanho do meu apartamento inteiro. Sentei no sofá e esperei o guri, ele chegou logo em seguida, era pequeno, loiro de olhos azuis e devia ter um 9 anos, imaginei se a irmã seria parecida.
            — Você deve ser o Daniel. — Ele disse entrando na sala — Pode vir, a guitarra tá lá no meu quarto, eu sou o Renato.
            Segui-o pela escadaria de mármore e pelos longos corredores, vez ou outra eu dava uma espiada nos quartos, a casa era uma mistura de clássico e moderno. Impressionante.
            — Bela casa. — Comentei.
            — Valeu, é tudo da minha irmã, ela ficou com tudo depois que nossos pais morreram.
            — Sinto muito. — lamentei.
            — Não sinta, eu nem me lembro deles, já faz muito tempo.
            Passado o momento mela-cueca nós começamos a aula com toda aquela teoria toda de primeira aula, mas eu me divertia, o guri era engraçado. Estávamos no fim quando uma deusa em forma humana com o corpo mais lindo e pele mais macia de todas entrou no quarto. Era ela.
            — Oi, Fê! Olha o que eu já sei tocar! — Disse Renato tocando um riff simples, mas com perfeição.
            — Muito legal! Muito legal mesmo! — Ela respondeu com a voz suave que eu ouvira no telefone. — Agora eu preciso dar uma palavrinha com o Daniel.
            Levantei de imediato deixando a guitarra cair no chão e arrancando risadas dos irmãos. O sorriso da Fernanda era extraordinário! Fomos até a enorme e dourada sala de estar da casa e ela começou a falar algo sobre pagamento, mas eu simplesmente não conseguia parar de pensar na boca dela. Ela percebeu, parou de falar e começou a me encarar também, ficamos nesse silêncio durante alguns segundos, fomos nos aproximando, teve todo aquele clichê de cinema, ela mordeu o lábio e nós nos beijamos. Foi tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão lugar-comum.
            Pode-se dizer que esse foi o começo da fase Paraíso da minha vida, eu trepava com uma milionária que me amava tanto quanto eu a amava e recebi uma proposta pra gravar um CD, dinheiro abre muitas portas. Tudo foi rápido demais, ascender no ramo musical como eu fiz é uma tarefa árdua, mas como eu disse, o dinheiro abre portas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Não é adeus, é até logo!

Essa mensagem é pra quem não tem twitter ou quem não me segue ou foda-se.

Alguns podem ter percebido que eu não faço mais os posts regulares de toda terça. O fato é que acabaram meus contos publicáveis por enquanto, então vou finalizar o blog, por enquanto, com minha primeira história que será dividida em capítulos. É uma história que eu gosto muito por ser uma das primeiras tramas que desenvolvi bem e me dediquei por dias há alguns anos.

Quando essa história terminar, vou postar quando escrever, mas esse ano tem sido hostil com a minha criatividade, a maioria do que vocês leram aqui foi escrito ao longo de 2009 contra um ou outro desse ano.

Mas já quero agradecer o apoio dos que leram e gostaram ou nem gostaram, mas foda-se, aumentou o número de visitas assim mesmo

E muito sexo e rock 'n' roll pra todo mundo!



P.S.: Comentem o que acharam do novo fundo, tem vários que eu gostaria de testar ainda.
P.P.S.: Eu parei por enquanto de postar CONTOS, mas nada me impede de vir aqui de vez em quando pra expor algumas opiniões, divagações e delírios, né não?