—Bicho, eles estavam certos! — Eu digo.
—Eles quem? — Ele pergunta com sorriso como se quisesse dizer que eu sou louco.
—Jack Kerouac, Allan Ginsberg, Charles Bukowski, Irvine Welsh… Todos eles, cara!
—Mas eles estão certos em relação a quê?
Cheiro mais uma linha de coca que está na mesa de vidro.
—Porra, velho, todos eles escreveram sobre como o mundo, a sociedade e as pessoas estão fodidas. Dizem que eu estou no fundo do poço, mas quando olho em volta, percebo que todos estão infinitamente mais fodidos do que eu. — Paro e trago meu cigarro lentamente.
—Prossiga.
—Cara, eles mostram as pessoas como elas realmente são, mostram a natureza humana nua, sem as máscaras de hipocrisia.
—Você tem razão! — Ele grita entusiasmado, percebendo do que estou falando. — Nos livros desses caras, os personagens se drogam, brigam, fazem sexo sem proteção, bebem, fumam, traem e roubam!
—A marginalidade é a mentira mais sincera que tem.
—E nós fazemos parte desse mundo! Eu e você! — Ele diz se levantando do sofá de couro preto.
Me sento e trago mais do meu cigarro.
—Somos os heróis dos maiores autores que já passaram pela terra, não usamos máscaras.
—Podemos tomar conta do mundo, bicho! — Ele diz acabando com a última linha de coca na mesa. — Por que demoramos tanto tempo para perceber isso?
—Não tenho idéia. — Eu respondo. Levanto e pego uma garrafa de Jack Daniel’s na prateleira de bebidas.
—Então vamos sair daqui! — Ele grita depois de tomar o copo de whiskey com um gole.
—Sair e fazer o quê? — Sorvo um gole do whiskey e me sento para admirar o lustre de cristal que ilumina essa sala luxuosa.
—Vamos enlouquecer, porra! — Ele joga o copo contra a parede, destruindo-o em mil pedaços minúsculos, mas eu não consigo me importar. — Vamos dar a cara pro mundo bater!
—Não sei, cara... isso me parece maluco demais. Me parece o tipo de coisa da qual não sairemos vivos.
—Melhor morrer assim do que viver na incerteza por não ter tentado.
Viro o resto do whiskey e também jogo o copo contra a parede. Me levanto.
—OK! Vamos! — Eu digo mais decidido do que nunca.
Abro a porta e saio primeiro, um enfermeiro me vê.
—Aonde você vai? — Ele pergunta com um sorriso no olhar.
—Nós vamos tomar o mundo! — Eu digo sorrindo.
—Não, não vai. — Ele diz e me empurra de volta para dentro da minha cela acolchoada com cheiro de urina. Estou sozinho.
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