segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

2. 1977


Só se passaram nove anos desde a Revolução Sexual e aquela garota está na minha frente abrindo as pernas e mostrando sua calcinha sem pudor algum no meio da boate lotada.
            O punk me olha e eu sorrio enquanto ele amarra o torniquete no braço direito e puxa com força com os dentes. O Madame Satã está lotado, principalmente no porão onde estamos.
            —Esses caras são muito bons! — A garota grita sobre a banda que está no palco tocando músicas dos Sex Pistols.
            —Com certeza! — Eu grito de volta e ela sorri sem perceber (ou sem se importar) a ironia
            Mas eu não estou aqui por causa da banda ou por causa da garota, estou aqui por causa do líquido dourado na seringa do punk.
            —Minha vez. — Eu digo sem cerimônia quando o conteúdo chega na metade.
            Arregaço minha manga e improviso um torniquete com o meu cinto, dou tapas no braço com força para encontrar a veia. Quando ela salta eu sorrio e, com a mão direita, pego a seringa e encosto a agulha na veia que está quase pulando para fora do meu braço esquerdo.
            Fecho os olhos e sinto a ponta da agulha perfurando minha pele. Empurro o êmbolo lentamente e sinto minhas veias serem preenchidas pela maior sensação de prazer que já senti na vida e que jamais vou sentir de novo.
            —Melhor do que sexo? — A garota me pergunta enquanto eu afundo no chão deslizando pela parede na qual estou encostado.
            —Provavelmente é melhor do sexo com você. — Eu respondo revirando os olhos, tentando calar a boca dela.
            Passam-se alguns segundos ou horas, não sei mais, e ouço um tiro, a música para e as luzes se acendem.
            —Todo mundo no chão, bando de maconheiro filho da puta!
            Aturdido, perco a consciência, não sei por quanto tempo e sou acordado por dois homens me puxando com força do chão pelos braços.
            Minha cabeça gira, a sensação de prazer ainda está em mim e eu começo a rir quando sinto algo subindo. Vomito no chão enquanto sou carregado para fora onde ouço as sirenes dos carros da PM. Fodeu, eu penso.
            Mas um dos policiais do lado de fora me reconhece e grita meu nome correndo em minha direção.
            —Deixem que eu me encarrego desse. — Ele diz para os brutamontes que me soltam. Eu caio a poucos centímetros dos restos de comida que deixei no chão, de cara com o concreto da calçada fria.
            O PM que me conhece pega meu braço e põe em volta do pescoço dele me carregando até seu carro e me levando para casa.
No caminho ele me diz coisas que eu não consigo entender, minha cabeça ainda gira e eu ponho a cabeça pra fora da janela sentindo o vento no rosto. Ele me puxa de volta e continua falando, cada vez mais exaltado, batendo no volante a cada palavra.
Não entendo o que ele diz, tudo que penso é que ser da polícia militar me dá boas vantagens.

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