terça-feira, 5 de janeiro de 2010

1. Golpe de Sorte


O banheiro está vazio, como de costume, entro e mijo imaginando se os pedreiros fedidos que reformam o lado de fora do banheiro são homossexuais espiando os homens daquele sanitário pela janela estreita de vidro. Verifico se a braguilha está mesmo fechada e lavo as mãos. Ouço passos entrando e são delicados demais para serem de um homem.
Ela para na minha frente vestindo meu casaco e me fita mordendo os lábios como quem diz: vamos transar ou não vamos? Puxo-a com força para perto de mim e a beijo como nunca havia beijado uma mulher, as quatro mãos percorrem os quatro cantos dos dois corpos separados apenas pelo tecido que nos veste.
—Vamos dar algo pra esses pedreiros espiarem. — Eu digo enfim, deixando uma interrogação na face macia dela.
Meia hora depois nós saímos despenteados, suados e com sorrisos em nossas bocas vermelhas e lambuzadas. Uma camisinha a menos na carteira, penso enquanto sinto minhas costas arderem com os arranhões ferozes daquela garota ao meu lado.
Ela abre a sua bolsa e tira um maço de Lucky Strike, acende dois e me dá um, que aceito de muito bom grado. Isso sim é um lucky strike, não cigarro, mas o fato de ter aquela menina-mulher ao meu lado, segurando a minha mão, o verdadeiro golpe de sorte.
Em algum ponto do trajeto, ela para, me olha de frente e pergunta:
—Você me ama?
É uma pergunta hostil da parte dela, fico sem reação e, no desespero, digo a verdade:
—Não sei.
Eu amo transar com ela, amo passar minhas tardes com ela, amo ficar chapado com ela. Mas isso não é amar ela, é?
Percebo que dei a resposta errada quando ela começa a andar na direção em que estava parada, oposta a minha. Fico parado sozinho na metade do caminho para lugar nenhum sem camisinha, sem cigarros, sem ninguém. Sem a porra de um golpe de sorte.

2 comentários:

Anônimo disse...

O melhor conto de todos. Muito bom mesmo.

Raphaël disse...

Jura? Foi o primeiro de todos, brigadão ;]