quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

7. Eu Estou...


             —...Grávida.
            É claro que eu começo a rir compulsivamente atraindo os olhares curiosos dos outros clientes daquele bar sujo. Gargalho até perceber que ela não está rindo junto. Ela está séria e me olhando de forma reprovadora.
            —Tem certeza? — Eu pergunto já sentindo náuseas.
            —Absoluta. — Ela diz ainda mais séria.
            Não agüento e vomito no chão. Minha cabeça gira. As pessoas do bar me olham enojadas. Eu perco o ar, sinto minha pele queimar por dentro e por fora e começo a suar frio.
            Corro. Corro como se corresse pela minha vida, atropelando garçons e fregueses, derrubando cervejas, fritas e amendoins. Não ligo. Preciso de ar. Chego na porta do bar e corro mais um pouco, revivendo toda minha vida até hoje. Corro me vendo quando criança. Corro me vendo como adolescente. Corro me imaginando como adulto. Corro até cansar e finalmente parar pra vomitar mais.
            Caio no chão e choro sentado não muito longe do meu próprio vômito. Ela vem em minha direção de braços cruzados e lábios contraídos mostrando todo seu desprezo, vejo olheiras em seu rosto branco, seus cabelos loiros emaranhados e seus olhos verdes cheios de lágrimas e inchados. Como eu não reparei nisso quando ela entrou no bar?
            —Sabe, você não pode simplesmente correr das suas cagadas. — Ela diz me olhando de cima.
            Caralho, isso me deixa puto! Levanto-me e começo a rodeá-la, olhando-a fixamente, tentando desarmar aquela pose.
            —Que eu saiba essa não é uma cagada que se faz sozinho, porra! — Eu grito quando ela finalmente abaixa os braços. — Eu nem sei se essa criança é minha! Eu ainda tenho meu futuro inteiro pela frente! Acabei de passar na porra do vestibular!
            —Você sabe que eu nunca te traí! — Ela diz quase chorando.
            Pela primeira vez eu desejei que tivesse sido traído.
            —Eu também tenho meu futuro pela frente! Eu também não estou feliz com isso! Eu tenho chorado todas as noites desde que descobri sem parar! — Ela diz chorando pra valer agora.
            Nós dois nos olhamos por alguns segundos. Eu a envolvo em meus braços.
            —Tudo bem, tudo bem. Vamos resolver isso, ok? Vamos superar tudo. — Eu digo e a solto.
            Ela me olha e tenta sorrir antes de eu fincar a lâmina do meu canivete na barriga dela, correr e chamar uma ambulância.

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