terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

5. Terrivelmente Bom


O elevador pára. Viro-me para a porta e a vejo entrar. O ar vai embora. É sempre assim. Não consigo respirar direito quando ela se aproxima.
            —Oi. — Ela diz com um sorriso.
            —Olá. — Eu respondo tentando sorrir também. Sem sucesso.
            O ar vai embora aos poucos dos meus pulmões. Preciso engolir em seco. Mas não posso. Isso é sinal de tensão. Tenho que parecer relaxado. Engulo em seco. O elevador não chega nunca. Os segundos viram horas. Dias.
            A gente deve morar no mesmo prédio há mais de 10 anos. Ainda assim eu fico tenso ao encontrá-la no elevador. Ainda assim eu nem imagino qual seja o nome dela.
            Hoje. Hoje eu descubro. Eu preciso saber. Mas preciso tomar coragem antes. Respiro fundo. Abro a boca para falar.
            —Você toca numa banda, não toca? — Ela pergunta antes que eu possa reproduzir algum som. Merda.
            —Toco. — Eu respondo friamente. Não por antipatia. Mas por não conseguir pensar direito. As palavras simplesmente saem nessas horas. O ar ainda não preencheu meus pulmões.
            Tá. Vou tentar de novo. Respiro fundo. Olho para ela. Ela está sorrindo para mim. O sorriso dela me desarma. O sorriso dela congela minhas veias. Eu quase posso sentir meu coração parar por uma fração de segundo.
            É uma sensação péssima. Mas é muito bom.
            —Qual é o seu nome? — Eu pergunto me espantando com minha própria falta de sutileza. Eu praticamente vomito as palavras. O elevador pára. Não. Não agora. Eu. Preciso. Saber.
            Ela me olha e sorri. Olha para a porta e a empurra. Vira-se pra mim e diz. Ainda sorrindo:
            —Acho que essa resposta vai ficar pro próximo passeio.

Nenhum comentário: