domingo, 13 de junho de 2010

Céu-Inferno Com Escala - Parte 1

Nunca me dediquei tanto a alguém como fiz com ela, até seu último suspiro. Seus longos cabelos loiros e seus reluzentes olhos azuis me encantaram desde o primeiro instante.
            Já faz sete anos que saí de Porto Alegre para seguir minha carreira de músico em São Paulo. Deixei minha vida pra trás e comecei tudo de novo, minha família ficou puta na época, mas era eu ou eles. Tive que me foder muito aqui para começar a me dar bem, são várias histórias que não valem a pena serem contadas agora.
            O importante é que depois de seis meses comendo merda eu consegui um emprego de professor e uma banda, foi aí que as coisas começaram a ficar interessantes. Consegui comprar um apê decente e tinha cada vez mais alunos pagando minhas contas, eu vivia com relativo conforto. Foi nessa época de vacas gordas que meu celular tocou foi o começo do fim. Ou o fim do começo, tanto faz.
            — Daniel Chaplin falando. — Atendi.
            — O professor de guitarra? — Ela perguntou, sua voz era suave como um coral de anjos. — Meu nome é Fernanda e eu tenho um irmãozinho que quer aprender a tocar. Ouvi dizer que você é o melhor. — Senti um arrepio.
            — Ouviu, é? Bom, podemos começar no próximo sábado, está bom pra vocês?
            — Sábado está ótimo!
            Nesse momento, meu coração já estava a mil com a expectativa de encontrar a Fernanda, ver como ela era. Passei as duas noites seguidas em claro imaginando o rosto e o corpo da Fernanda.
            Sábado finalmente chegou e eu fui até a casa do garoto com um puta nervosismo. Eles moravam numa casa gigante na zona oeste da cidade.
            Quem me atendeu foi a empregada, ela me conduziu até uma sala de visita do tamanho do meu apartamento inteiro. Sentei no sofá e esperei o guri, ele chegou logo em seguida, era pequeno, loiro de olhos azuis e devia ter um 9 anos, imaginei se a irmã seria parecida.
            — Você deve ser o Daniel. — Ele disse entrando na sala — Pode vir, a guitarra tá lá no meu quarto, eu sou o Renato.
            Segui-o pela escadaria de mármore e pelos longos corredores, vez ou outra eu dava uma espiada nos quartos, a casa era uma mistura de clássico e moderno. Impressionante.
            — Bela casa. — Comentei.
            — Valeu, é tudo da minha irmã, ela ficou com tudo depois que nossos pais morreram.
            — Sinto muito. — lamentei.
            — Não sinta, eu nem me lembro deles, já faz muito tempo.
            Passado o momento mela-cueca nós começamos a aula com toda aquela teoria toda de primeira aula, mas eu me divertia, o guri era engraçado. Estávamos no fim quando uma deusa em forma humana com o corpo mais lindo e pele mais macia de todas entrou no quarto. Era ela.
            — Oi, Fê! Olha o que eu já sei tocar! — Disse Renato tocando um riff simples, mas com perfeição.
            — Muito legal! Muito legal mesmo! — Ela respondeu com a voz suave que eu ouvira no telefone. — Agora eu preciso dar uma palavrinha com o Daniel.
            Levantei de imediato deixando a guitarra cair no chão e arrancando risadas dos irmãos. O sorriso da Fernanda era extraordinário! Fomos até a enorme e dourada sala de estar da casa e ela começou a falar algo sobre pagamento, mas eu simplesmente não conseguia parar de pensar na boca dela. Ela percebeu, parou de falar e começou a me encarar também, ficamos nesse silêncio durante alguns segundos, fomos nos aproximando, teve todo aquele clichê de cinema, ela mordeu o lábio e nós nos beijamos. Foi tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão lugar-comum.
            Pode-se dizer que esse foi o começo da fase Paraíso da minha vida, eu trepava com uma milionária que me amava tanto quanto eu a amava e recebi uma proposta pra gravar um CD, dinheiro abre muitas portas. Tudo foi rápido demais, ascender no ramo musical como eu fiz é uma tarefa árdua, mas como eu disse, o dinheiro abre portas.

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