quinta-feira, 1 de abril de 2010

11. Antes de Qualquer Coisa


Isso é São Paulo, sexo, drogas, puteiros, bares, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, trissexuais, travestis, ativos, passivos, maconha, heroína, coca, Guaraná e Fanta. E pensar que as pessoas saem de São Paulo, mas não saem do Brasil, não existe cidade como aqui em nenhum outro lugar da América Latina. Além de, talvez, Tijuana.
            O iniciante olha em volta com um brilho admirado nos olhos, estamos na Augusta, na parte mais baixa da rua. Você sabe, perto do centro. Ele me olha e eu sorrio para ele enquanto trago meu cigarro e dou um gole na minha garrafa de Bourbon. Ele abre a carteira pela terceira ou quarta vez e sorri para mim afirmando a presença de dinheiro lá dentro.
            Uma loira se aproxima de nós e passa a mão na bunda da minha namorada que sorri para ela dizendo:
            —Belos peitos, são naturais?
            —Cem por cento. — Responde a puta de imediato. Conheço o roteiro. — Estão a fim de sexo a três? — O iniciante olha pra mim e eu empurro delicadamente aquela mulher da vida para perto dele. Eles viram as costas e se dirigem ao hotel vagabundo na esquina.
            Olho para minha namorada que dá uma risadinha maliciosa, nós dois sabemos que aquela puta era um travesti. Conto até cinco e quando chego no último número, ouvimos o grito do iniciante. A maior prova de virgindade e amadorismo que alguém poderia dar.
            —Por que você fez isso? — Ele pergunta enquanto sai correndo do hotel (se é que posso chamar aquilo de hotel).
            —Queria ver o circo pegar fogo. — Respondo calmamente enquanto minha namorada ri sem parar ao meu lado.
            Andamos um pouco observando as mulheres seminuas e seus cafetões disfarçados quando um traficante nos aborda tentando nos vender algum tipo de ópio barato, eu penso em comprar, mas ele erra em beliscar a bunda da minha namorada, aquela bunda deve ter alguma porra de ímã que atrai mãos masculinas. Ótimo, penso, uma briga.
A adrenalina sobe como um jato para o meu cérebro e enfio um soco tão forte no traficante que ele provavelmente engole um dente ou dois. Ele tenta me acertar, mas ainda está atordoado e erra. Descubro que ele tem uma nove milímetros em um dos bolsos da jaqueta que ele rapidamente puxa e mira em minha direção. Olho em volta e vejo que uma roda de putas e cafetões se formou a nossa volta.
Antes que ele possa atirar, eu chuto sua mão e a arma voa para longe, já fiz isso vezes demais, saco meu canivete e finco-o a barriga do infeliz. Para sorte dele, era uma faca curta demais pra matar. Viro as costas, ponho o braço nos ombros da minha namorada e saio ovacionado pelos marginais enquanto o iniciante me segue e xaveca uma vadia morena de olhos verdes.
Nós quatro, eu, o iniciante, minha namorada e a puta de olhos verdes, vamos para outro hotel barato, ficamos em quartos vizinhos e, enquanto minha namorada prepara duas fileiras de coca, posso ouvir pela parede:
           —Antes de qualquer coisa, preciso ter certeza.

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