Ela fica dizendo bobagens sobre meu trabalho, falando sobre a profundidade das minhas músicas, citando trechos, cantando melodias e acordes.
—Você é um poeta, me inspirou a escrever minhas próprias músicas. — Ela diz entre um gole e outro de gim com tônica.
Não acredito que estou pagando mais de 200 reais nesse bar só pra a ouvir falar impropérios sobre mim.
—Obrigado, mas eu não sou um poeta, só um cara que gosta de entreter as pessoas com a minha arte, com os meus sentimentos. — Eu respondo olhando pro vazio, deixando claro o meu desinteresse.
Ela ignora a falta de atenção e coloca a mão na minha coxa.
Bosta, penso.
—Não se subestime. Você é um poeta. Quer um pouco de pó? — Ela diz a última frase com tanta naturalidade que eu, por um segundo, penso que se trata de pó-de-arroz.
Malditas sejam as tietes. Eu realmente achei que essa fosse diferente quando a chamei pra sair ontem depois do show. Eu realmente me dispus a gastar uma grana com ela ao invés de simplesmente leva-la pra cama por pensar que poderia ser algo sério. Doce ilusão.
—Não, obrigado. Eu parei.
—É, eu vi na entrevista da Rolling Stone, mas achei que você só estava bancando o bom moço.
A mão dela sobe pela minha perna e encontra a origem dos meus futuros filhos. Ela o massageia por baixo do balcão e eu não consigo esconder meu tesão.
—A gente faz o seguinte; — Ela começa. — vamos ao banheiro e usamos os sentidos, eu cheiro e você me toca, o que acha? — Ela diz isso como um último suspiro de uma groupie desesperada.
—Parece ótimo. — Eu minto. — Vai na frente que eu te sigo em dois minutos.
Ela sorri e sai com pressa. Deixo o dinheiro no balcão, chamo o barman e digo:
—Olha, tem uma moça no banheiro, quando ela voltar, dá esses 50 reais pra ela pegar um táxi.
Saio do bar e dou de cara com uma puta numa esquina.
—Ta afim de diversão? — Ela pergunta seguindo o roteiro.
—Quando é?
—100 reais.
—É... Bem mais barato.
Abro a porta do carro e a deixo entrar.
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